Onipresença

E eu ainda ouvia você dizendo que não gostava da minha bagunça, da minha demora, dos meus falatórios descontínuos e embriagados. E podia inclusive vê-lo deitado na cama, dormindo como um bebê, enquanto eu, bobo como sou, ria discretamente. Podia também relembrar cada uma de nossas poucas brigas, cada um de nossos muitos sexos lunáticos, cada uma de nossas inconstantes comemorações lúdicas sem motivo. Podia ver o branco do seu sorriso, o doce do seu carinho, o torto dos seus dedos do pé. Tudo, tudo mesmo...
O que eu mais tenho medo é disto: sua onipresença. Constante, que transformou cada vez mais o meu “eu” em você. E não vice-e-versa.