terça-feira, junho 27, 2006

Inocuidade em prosa


É incrível pensar em como as coisas mudam, em como as pessoas mudam.
Por mais que se tente manter a linearidade acerca de um pensamento, uma idéia ou mesmo acerca de um projeto de vida, há sempre aquele momento em que você se depara com os planos todos revirados, às vezes até avessos às condições iniciais projetadas.

Aí entra a questão do idealismo.

Eu mesmo achei que sempre teria o controle dos meus ideais, que eles seriam pouco mutáveis, seguros, indeléveis. Idealizei todo um caminho, toda uma vida, todo um mundo que me esperaria ao chegar o momento de poder decidir por mim mesmo, de fazer escolhas.
E tudo foi tão desastroso, o gosto de confrontar-se com a verdadeira face da vida foi tão amargo que as convicções mudaram. Os pensamentos, as ideologias, os planos, as concepções, tudo passou por uma incrível transformação.

Definitivamente, eu ainda não sei se isso pode ser considerado crescimento. Acredito que tenha sido, mas tudo é tão podre, tudo é tão injusto no mundo que minhas ideologias de hoje podem não mais me valer nada amanhã (Não que hoje valha, mas assim o é).
É claro que, na prática, isso não funciona. É claro que a sociedade exige que tenhamos o máximo de idealismo possível. É certo que o mundo cobra de nós uma postura que foge da compreensão daquilo que é a verdade, que é o real. A verdade é distorcida e a realidade, uma falsa quimera. Neste momento, usa-se a máscara mais vergonhosa, a da omissão.

É difícil pensar na vida sem a fantasia, sem o sonho.
É difícil sair da caverna e sentir os olhos doer, sentir-se fora do ventre, fora do maniqueísmo, da dualidade imposta.
É difícil perceber o simples fato de estarmos sozinhos num jogo em que o “vencedor” é aquele que mais se mostra alienado.

quarta-feira, junho 21, 2006

Descobrindo a Vida

As descobertas da adolescência podem ser as mais gostosas da vida. Mesmo diante de tantos problemas, não há tema mais sedutor do que a juventude e todas as suas típicas histórias.

E é sobre essa fase da vida que se estende o longa Buenos Aires 100 km. Centrado na história de Esteban e seus quatro amigos recém saídos da infância, o filme acompanha a trajetória recheada de descobertas desses jovens que vivem num vilarejo a 100 quilômetros da capital argentina.

Esteban tem um sonho de ser escritor, mas seu pai o obriga a fazer um curso técnico de desenho. Um de seus amigos dorme diversas vezes na rua, esquecido pelos pais. Outro descobre que é adotado. O terceiro tem uma mãe promíscua e mal falada na vizinhança, e o último vive o sonho de enriquecer e mudar-se dali.

Em meio a todos esses conflitos, os garotos se deparam com outras descobertas instigantes da adolescência: a paixão, as amizades, as brigas, o amor ao futebol, e por aí vai. Todavia, diante da monotonia em que vivem, descobertas mais dolorosas também vêm à tona e mostram todos os problemas da vida em uma pequena comunidade. Os jovens enfrentam o drama de terem suas vidas compartilhadas, principalmente quando segredos são revelados.

Parecem histórias e aspirações banais, despretensiosas e pueris, e, de fato, o são. Mas, quando reveladas sob o olhar do diretor Pablo José Meza, enchem o espectador de emoção e sentimento. A seqüência final do filme é talvez a melhor, realista ao extremo e poética na medida.

O mote é universal, as personagens também. Porém, o que há de mais pessoal em Buenos Aires 100 km é a forma como cada um sai do cinema pensando e relembrando as descobertas, os prazeres e as conquistas nostálgicas da juventude.