terça-feira, junho 12, 2007

Necrose


Teu cheiro é como a mais entorpecente das drogas: pelas entranhas, entra sem sequer ser absorvido.
Teu corpo é frio. Tua alma, deixada ao relento, é capaz de ser sentida na palma da minha mão.
Teus braços, finos e magros, não mais abraçam, rodeiam sem ênfase.

Teu sorriso, tão belo, é misto. Misto de dor e de prazer a todo custo.
Tua boca, que outrora fora minha, já nem lábios mais tem.

Neste momento, teu corpo é necrose. Teus olhos já se misturam com a terra, tua roupa rasgada é barro, cinza e pó.

E gosto, gosto muito de sentir tua morte assim, pulsando mais latente do que um respiro de vida. Pulsando, incoerentemente, no indefinido. Gosto mesmo de sentir o contraditório, o diminuto, tão confuso e amargo, mas ao mesmo tempo assim, sóbrio, como a imagem de teu corpo desfigurado...