sábado, março 22, 2008

Mais um

Era tarde e ele sabia que já não dava mais tempo de conseguir se achar no meio daquela multidão.
Estava quente, mas não era o momento de se importar com o suor que insistia em umidecer toda a sua face e o seu corpo.
As pessoas não mais estavam conscientes, era um transe coletivo que parecia ser perpétuo.
E por que ele estava ali?
Não sabia.
Era a inércia da vida. O puro azar de ter sido encaminhando a caminhos que não escolhera.
Por que o medo?
Na verdade, não era medo o que sentia. Era um misto de agonia e de desilusão.
Era dor, não medo, ele fazia questão de enfatizar.
E o pior era pensar em como se livrar daquilo, daquilo tudo que não era seu, que não fazia parte da sua vida... de toda aquela falsa moral,
de todos aqueles gostos duvidosos, crenças infundadas, certezas inválidas...
Tinha uma escolha, mas foi infeliz.
Infeliz por ser incompreeendido.
E hoje, no meio daquela multidão da qual ele ainda não conseguiu se livrar, não sente mais calor nem dor.
Nem nada.
É só mais um, como todos.

quinta-feira, março 13, 2008

Ode



À putaria, ao prazer sem qualquer custo.
Ao sexo, aos minutos de deleite;
carne com carne, à friccção compulsória.
Ao meter, ao foder, ao gozar.
Ao gemer, ao sussurro.
Ao vazio, ao completo imperfeito.
Ode ao pecado.
Ao incerto, incendiado, falido, perseguido...
Ao prazer desmedido, acometido.
Estarrecido.

à minha maneira

queria assim, sem frescuras.
queria assim, com rabiscos em cima de rabiscos.
com desenhos, sem forma.
bem assim, do meu jeito.