segunda-feira, junho 02, 2008

Muito Tarde Demais

A sensação era estranha. Não sei por que, mas parecia que mais alguém estava ali do meu lado, no banco do passageiro, respirando o mesmo ar e sentindo o suor escorrendo na minha camisa.
Coisa da cabeça, pensei.
Mesmo com aquele frio na barriga, segui. Porém, nem mesmo a voz de Conor Oberst, outrora tão efusiva, parecia fazer sentido algum naquele momento. A música já não mais era melodia - gritava do rádio direto para dentro de mim, empunhalando:


Your hands are on me,
Pressing hard against your jeans,
Your tongue in my mouth,
Trying to keep the words from coming out,
You didn't care to know
Who else may have been you before.

A sua imagem estava ali do lado, algo mais real do que qualquer presença. Suas mãos sobre mim, como na música. Seu toque, que sempre se revestia de uma sutileza que beirava o extremo, não me parecia nada incoerente.

I want a lover I don't have to love,
I want a boy who's so drunk he doesn't talk.
Where's the kid with the chemicals?
I got a hunger and I can't seem to get full.
I need some meaning I can memorize.
The kind I have always seems to slip my mind.

Por um segundo, descuidei de mim, senti que não era mais eu, que eu era você e vice-versa.
Dei-me conta de que não estava mais dirigindo. Era apenas uma sombra avistando a minha própria morte que se apresentava na minha frente: numa ribanceira, meu corpo ia se misturando aos escombros do carro, da minha carne, do meu sangue que já não mais era vida.

E você? Por fim te reencontraria?
Não mais, era tarde. Muito tarde demais.
You write such pretty words,
But life's no storybook.
Love's an excuse to get hurt.
And to hurt.
Do you like to hurt?
I do, I do.
Then hurt me,
Then hurt me...